Diversão disfarçada de lição
Camp Rock aprendeu com High School Musical a ser moderninho para agradar à garotada, e parecer certinho para os pais
Mitchie (Demi Lovato) é uma menina pobre e com talento para a música. Seu sonho é freqüentar o Camp Rock, acampamento de férias onde crianças ricas aprendem a ser astros do pop. Em parte, ela realiza o sonho: sua mãe é contratada como cozinheira do lugar e leva a filha como ajudante. Para inveja das outras meninas, ela faz amizade com Shane Gray (Joe Jonas), roqueiro adolescente que foi mandado à força ao local por causa de suas atitudes rebeldes. Mitchie inventa que sua mãe é uma poderosa executiva da indústria musical. Logo, porém, perceberá que uma mãe humilde, mas amorosa, vale mais que todo o poder do mundo – uma lição que se estenderá para a rival, Tess Tyler (Meaghan Jette Martin), filha de uma cantora de sucesso que não dá bola para ela. Reza o senso comum que aí está a chave do sucesso de High School Musical e de Camp Rock, que estréia neste domingo no Disney Channel e com o qual a Disney dá continuidade à fórmula: tais atrações são lições de moral disfarçadas de entretenimento. Uma mirada mais atenta, contudo, revela o exato oposto. High School Musical e Camp Rock fazem um tremendo sucesso porque são entretenimento disfarçado em lição de moral. Ser "rebelde" e "moderninho" para agradar ao público-alvo, e certinho o suficiente para ter a audiência estimulada por pais e mães – essa, sim, é a sacada da Disney.
Desde seu lançamento nos Estados Unidos, no fim de junho, Camp Rock vem causando um pequeno alvoroço. Na noite de estréia, foi visto por 9 milhões de pessoas, e o disco com a trilha sonora alcançou a terceira posição na parada. Mas ainda não se tornou uma ameaça a High School Musical (veja entrevista abaixo com seu diretor, Kenny Ortega), cujo segundo episódio, que detém o recorde de audiência da história da TV paga americana, com 17 milhões de espectadores, foi o álbum mais vendido de 2006 e virou um musical no gelo (que estreou nesta semana no Rio e passará ainda por São Paulo e Belo Horizonte).
Como seu predecessor, Camp Rock é farto em números musicais. O rock bobinho predomina, mas há também baladas e hip hop. A vilã é uma encarnação mirim de Britney Spears, e loira como todas as meninas más que o estúdio criou nos últimos tempos. A nova atração, porém, traz pequenas diferenças. Seus protagonistas já eram conhecidos antes. Joe Jonas faz parte dos Jonas Brothers, um dos grupos de pop mais bem-sucedidos da atualidade (seus irmãos, Nick e Kevin, participam do filme sob o nome de Connect 3). Demi Lovato é uma jovem atriz de sucesso, tendo participado por muitos anos do seriado Barney, aquele do irritante dinossauro roxo. O caso é que Camp Rock difere também na qualidade – inferior – do roteiro: é um High School Musical sem carisma, que não chega aos pés do original. E pensar que chegaria o dia de fazer esse elogio...
terça-feira, 29 de julho de 2008
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